quarta-feira, 28 de julho de 2010

Novo desnudo mundo!


O amargo sabor do cipó,

Do mais depurado pó,

Combinado com a bolha pálida,

Que escorre da folha árida,

Dando nó no orvalho descansado,

Desata a placenta flácida que se rompe,

Abre as portas da percepção,

E desperta no imaturo,

O prazer duro,

De respirar ar,

A anciedade de se acalmar,

E a certeza da inexatidão.


O amargo sabor do cipó,

O que escoa da barracheira,

Apresenta o tato,

Num dado toque de dedos,

Revela a descoberta,

Da existência,

De um mundo novo,

Por debaixo da coberta.


O amargo sabor do cipó,

Que dilata a pupila da verdade,

Que dá asas a realidade,

Te fornece a percepção,

Num surto de consciência...a noção,

De que tudo poderia passar,

E mesmo estagnado,

A sensação de tempo aproveitado.


O amargo sabor do cipó,

Que do tronco,

Extrai a força desconhecida,

Te permanece ereto,

Na direção da luz perseguida,

E aceita a dor,

Como uma flor,

Que se merece, mas se esmorece.


O amargo sabor do cipó,

Que trava a língua,

Liberta a mente,

Não desmente,

Tudo que Caetano já dizia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Desejos (20 de Julho)



"Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
(***)
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu"


segunda-feira, 12 de julho de 2010

" "



"E no Cosmos de onde eu vim
Com a imagem do caos
Me projeto futuro sem fim
Pelo espaço num tour sideral
Minhas roupas estampam em cores
A beleza do caos atual
As misérias e mil esplendores
Do planeta de Neanderthal"
(Lenine)

sábado, 3 de julho de 2010

Bossa Nova




"O cara bate na porta dos fundos da padaria. O padeiro vem atender.
— Pois não, quer pães?
— Não, nenhum.
— Como assim? Nenhum? Quer leite?
— Não.
— Manteiga?
— Também não.
— Frios? Queijo e presunto?
— Não, não.
— Cerveeeja!
— Nada disso.
— Porra! O que você quer então?
— Quero contar uma coisa.
— Você quer me contar uma coisa?
— É!
— Que coisa?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!
— O quê!?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!
— Amigo, você só pode estar de sacanagem comigo!
— Não. Não estou não. É verdade. Eu aprendi.
— Bossa nova! Que merda é esta?
— É um ritmo musical.
— Ah, tá! E o que eu tenho a ver com isso?
— É bem difícil. Tive que praticar muito!
— Difícil é fazer pão sem farinha, meu amigo!
— Concordo! Uma coisa de cada vez. Pelo menos já aprendi a tocar bossa nova.
— Cacete! Você só sabe falar isso?
— Se você tivesse aprendido a fazer pão sem farinha, só iria falar nisso também. Não?
— Amigo, não tem ninguém pra você contar seu grande feito além de um padeiro?
— As quatro da manhã, não.
— Puta que o pariu!
— Como assim?
— Ah, olha a banca de revistas abrindo! Vai lá!
(…)
— O que vai ser, amigo. Jornal?
— Não. Sabe o que é?
— O quê?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!"

(Marcelo Ferrari).