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Ou: "Não liguei pra dar os parabéns, mas mandei uma mensagem pelo Orkut"
Li o texto “Passeando” de Luis Pereira neste post de Sandro aí de baixo (“Da dureza à maciez”). Fui comentar, mas o comentário se tornou muito importante pra mim (além de muito grande), então decidi colocar aqui, na forma de texto.
“Minha definição pra este texto: lindamente angustiante (ou: pétala de uma tonelada). Ele define (através da Beleza com letra maiúscula) a atual fase da minha (querida) Angústia.
Vou explicar. Em agosto deste ano, eu comecei a escrever num caderno velho tudo o que eu estava sentido naquela época. Vou digitar aqui a primeira coisa que escrevi:
‘Minha oração de hoje será este texto.
Por que tenho que viver uma vida sem sentido, se eu já sei da maneira que quero viver?
Tenho 23 anos. Se viver até os 73 anos, só terei mais 50 anos pra viver. Já estou 1/3 morto. 23 anos já acabaram. Deles eu só tenho lembranças, aprendizados, mas vida mesmo, tempo já não tenho mais nenhum desses anos.
Sim, só tenho mais 2/3 de vida pra viver. É muito pouco tempo. Não que vá acabar tudo, porque eu sei que não acaba.
Na verdade, eu posso morrer antes também. Se morrer com 29 anos, só terei mais 6 anos pra viver. Minto. Terei 5 anos e alguns dias somente.
Então, pra que cargas d’água eu vou perder minha vida em uma vida vivida estupidamente? Por que afinal eu tenho medo? Medo de quê? Medo de ter uma vida plena e feliz? Medo eu tenho que ter (e tenho muito na verdade) de viver uma vida que não me agrade.
Acordar tarde ainda cansado, trabalhar em um trabalho que não me satisfaça. Buscar uma coisa que só me trás sofrimento e frustração: dinheiro. Não preciso de um celular tocando o tempo todo. Não preciso do melhor carro do mundo. Não preciso de muitas coisas pra ser feliz. Preciso de paz de espírito. Preciso me sentir útil na vida das pessoas. Preciso ter pessoas para amar e ser amado por elas. Preciso, e preciso muito, de pessoas para conversar. Preciso de um canto e um momento só meu, todo dia, mas sem sono, sem pressa, sem a pressão do tempo que me oprime tanto.
Acho que é por isso que preciso morar numa cidade pequena, onde as pessoas se conheçam bem, onde o tempo não oprima tanto. Preciso ficar mais perto do que parece estar perto de Deus. O dinheiro, os juízes e advogados corruptos, a maluquice da cidade grande, a pressa, as pessoas puxa-sacos, as festas de gente chata e arrogante, os ambientes intoxicados não estão perto de Deus. Não preciso muito pra saber disso, meu coração sabe.
Eu preciso encontrar pessoas que pensem como eu.
Preciso criar um jeito de viver, me alimentar (e que se dane as regras gramaticais que artificializam a língua), me locomover, morar, me vestir, sem precisar contrariar os desejos da minha alma.
Poderia ser uma comunidade. Ou um projeto. Não, acho legal uma comunidade. Várias famílias, vários amigos morando em um lugar. Estas pessoas gostam de viver da maneira mais livre possível. Gostam de buscar coisas que alimentem seus Espíritos. Não gostam de opressão, sejam elas morais, físicas ou psicológicas. Essas pessoas gostam de ajudar as outras pessoas. Gostam de ajudar todas as coisas’
Parabéns pelo texto (sublime), mas parabéns principalmente pela oportunidade que você tem de saber disso tudo nesta vida.
Espero que não sejamos velhos frustrados.”
(...)
Se dêem um presente também: http://barco-iris.blogspot.com/
Os Invisíveis
Aquilo começou com uma explosão de violência. Poucos dias antes do natal, numerosos famintos tomaram de assalto os supermercados. Entre os desesperados, como costuma ocorrer, infiltraram-se uns quantos delinqüentes. E nessas horas de caos, enquanto corria o sangue, o presidente da Argentina falou pela televisão. Palavra mais ou palavra menos, disse: a realidade não existe, as pessoas não existem.
E então nasceu a musica. Começou devagarinho, soando nas cozinhas de algumas casas, colheres batiam nas panelas, e saiu pelas janelas, pelas sacadas. E foi-se multiplicando de casa em casa e ganhou as ruas de Buenos Aires. Cada som se uniu a outros sons, pessoas se uniram com pessoas, e na noite explodiu o concerto da revolta coletiva. Ao som das panelas e sem outras armas senão estas, a multidão invadiu os bairros, a cidade, o país. A policia respondeu a balaços. Mas as pessoas, inesperadamente poderosas, derrubaram o governo.
...
Os invisíveis, fato raro, tinham ocupado o centro do palco.
Não só na Argentina, não só na América Latina, o sistema está cego. O que são as pessoas de carne e osso? Para os mais notórios economistas, números. Para os mais poderosos banqueiros, devedores. Para os mais eficientes tecnocratas, incômodos. E para os mais exitosos políticos, votos.
O movimento popular que defenestrou o presidente De la Rúa foi uma prova de energia democrática. A democracia somos nós, disseram os populares, e estamos fartos. Ou acaso a democracia consiste somente no direito de votar a cada quatro anos? Direito de eleição ou direito de traição? Na Argentina, como em tantos outros países, as pessoas votam, mas não elegem. Votam em um, governa outro: governa o clone.
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No governo, o clone faz ao contrario tudo o que o candidato prometeu durante a campanha eleitoral. Segundo a célebre definição de Oscar Wilde, cínico é aquele que conhece o preço de tudo e o valor de nada. O cinismo se disfarça de realismo; e assim se desprestigia a democracia.
As pesquisas indicam que a América Latina, hoje em dia, é a região do mundo que menos acredita no sistema democrático de governo. Uma dessas pesquisas, publicada pela revista The Economist, revelou a queda vertical da fé da opinião pública na democracia, em quase todos os países latino-americanos: segundo esses dados, recolhidos há meio ano, só acreditavam nela seis de cada dez argentinos, bolivianos, venezuelanos, peruanos e hondurenhos, menos da metade dos mexicanos, nicaragüenses e chilenos, não mais do que um terço de colombianos, guatemaltecos, panamenhos e paraguaios, menos de um terço de brasileiros e apenas um de cada quatro salvadorenhos.
Triste panorama, caldo gordo para os demagogos e os messias fardados: muita gente, sobretudo muita gente jovem, sente que o verdadeiro domicílio dos políticos é a cova do Ali Babá e os quarenta ladrões.
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Uma lembrança de infância do escritor argentino Héctor Tizón: na Avenida de Mayo, em Buenos Aires, seu pai mostrou-lhe um homem que, na calçada, atrás de uma mesinha, vendia pomadas e escovas para lustrar sapatos:
- Aquele senhor se chama Elpidio González. Olha bem. Ele foi vice-presidente da república.
Eram outros tempos. Sessenta anos depois, nas eleições legislativas de 2001, houve uma enxurrada de votos em branco ou anulados, algo jamais visto, um recorde mundial. Entre os votos anulados, o candidato triunfante era o pato Clemente, um famoso personagem de historia em quadrinhos: como não tinha mãos, não podia roubar.
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Talvez a América Latina jamais tenha sofrido um esbulho político comparável ao da década passada. Com a cumplicidade e o amparo do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, sempre exigentes em matéria de austeridade e transparência, vários governantes roubaram até ferraduras de cavalos a galope. Nos anos das privatizações, leiloaram tudo, até as lajotas das calçadas e os leões do zoológico; e o produto do leilão se evaporou. Os países foram vendidos para pagamento da dívida externa, segundo mandavam os que de fato mandam, mas a dívida, misteriosamente, multiplicou-se, nas mãos ligeiras de Carlos Menem e muitos outros de seus colegas. E os cidadãos, os invisíveis, ficaram sem países, com uma imensa dívida para pagar, pratos quebrados da festa alheia.
Os governos pedem permissão, fazem seus deveres e prestam exames: não diante dos cidadãos que votam, mas diante dos banqueiros que vetam.
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Agora que estamos todos em plena guerra contra o terrorismo internacional, cabem certas dúvidas. O que devemos fazer com o terrorismo de mercado, que está castigando a imensa maioria da humanidade? Ou não são terroristas os métodos dos altos organismos internacionais, que em escala planetária dirigem as finanças, o comércio e o resto? Acaso não praticam a extorsão e o crime, ainda que matem por asfixia e de fome e não por bomba? Não estão despedaçando os direitos dos trabalhadores? Não estão assassinando a soberania nacional, a industria nacional, a cultura nacional?
A Argentina era a aluna mais aplicada do Fundo Monetário, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio. E foi o que se viu.
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Damas e cavalheiros: primeiro os banqueiros. E onde manda capitão, não manda marinheiro. Palavras mais ou palavras menos, esta foi a primeira mensagem que o presidente George W. Bush enviou à Argentina. Da cidade de Washington, capital dos Estados Unidos e do mundo, Bush declarou que o novo governo argentino deve “proteger” seus credores e o fundo Monetário Internacional e levar adiante uma política de “maior austeridade”.
Enquanto isso, o novo presidente provisório argentino, que substitui De la Rua até as próximas eleições, meteu os pés pelas mãos em sua primeira declaração à imprensa. Um jornalista perguntou o que iria priorizar, a dívida ou as pessoas, e ele respondeu: “A dívida”. Dom Sigmund Freud sorriu em seu túmulo, mas Adolfo Rodríguez Saá logo corrigiu a resposta. Pouco depois, anunciou que suspenderia os pagamentos da dívida e destinaria esse dinheiro à criação de fontes de trabalho para as legiões de desempregados.
A dívida ou as pessoas, esta é a questão. E agora as pessoas, os invisíveis, exigem e vigiam.
...
Há coisa de um século, Dom José Batlle y Ordóñez, presidente do Uruguai, assistia a uma partida de futebol. E comentou:
- Que bonito seria se houvesse 22 espectadores e dez mil jogadores.
Talvez se referisse à educação física, que ele promoveu. Ou estava falando, quem sabe, da democracia que imaginava.
Um século depois, na Argentina, o país vizinho, muitos manifestantes envergavam a camiseta de sua seleção nacional de futebol, seu sentido símbolo de identidade, sua alegre certeza de pátria: vestindo a camiseta, invadiram as ruas. As pessoas, fartas de serem espectadoras de sua própria humilhação, invadiram a cancha. Não vai ser fácil desalojá-las.
Eduardo Galeano
(2001)
Amizade entre espécies: por que não?
Pra começar a série, um videozinho de uma campanha publicitária contra o abandono de 'animais domésticos'.
Apesar do medo de restringir, de logo, o enfoque, decidi iniciar os trabalhos com uma pitadinha de sensibilidade. Só pra já ir demonstrando o equívoco da falácia de que 'animais' não têm sentimentos.
Continuação em breve. Até lá!
Numa noite bem estrelada, deite-se num lugar que dê pra ver o céu.
Encontre uma posição bem confortável e dê uma relaxada: respire bem fundo e bem devagarzinho umas 10, 15 vezes.
Se acreditar em alguma coisa boa que não dê pra ver, reze pra ela (serve qualquer coisa).
Pronto, agora vamos começar o exercício.
Olhe por uns 3 segundos para os corpos celestes que mais chamem sua atenção (passe algum tempo fazendo isso).
Eleja o que mais tenha significado pra você (pode ser só o mais bonito, ou o que tenha o brilho mais intenso).
Olhe fixamente para esse corpo, só para ele. Tente pensar só nele (perceba que sua mente é bagunçada demais pra fazer isso por muito tempo, mas se esforce, sem nunca - isso é muito importante - ser rude com sua mente; afaste os outros pensamentos com carinho).
É completamente compreensível ficar com medo nesta hora ou nas próximas fases deste exercício: você está percorrendo estradas até agora desconhecidas. Perceba, no entanto, que você não tem medo do céu, você tem medo de você mesmo. Do silêncio (isso é novo pra você).
Mas, como sabemos que nada de mal pode acontecer conosco neste momento, continuamos (dica: se o medo se tornar insuportável, reze novamente, procure um ponto de conforto em alguma coisa que lhe transmita afeto e segurança).
Afastado (com carinho) o medo, crie uma imagem mental do corpo celeste eleito e feche seus olhos.
Pense por alguns segundos nos detalhes desta imagem, em tudo o que sua lembrança recente guardou dela para você. Faça isso por uns 2 minutos.
Tente imaginar agora uma bola branca, bem, bem branca. Imagine que esta bola é você. Não sua mente, não o seu corpo, tampouco a conjunção das duas coisas. Pense que ela é uma quarta via. Ela é você mesmo, é Você com “v” maiúsculo (se não entender isso, invente, não há problema).
Construída a bola branca, vamos preparar-la para o que vem mais à frente.
Pense que raios de todas as cores, saídos de todos os cantos se dirigem à bola. Atribua significados positivos, porém distintos aos raios (a cor rosa pode ser o amor da sua mãe, a cor verde a amizade dos seus amigos etc). Eles irão proteger a nossa bola branca querida de quaisquer ameaças ou desarmonias (sinta que seu medo está diminuindo, desaparecendo; não há mais nada a temer, já que os raios coloridos estão protegendo a bola branca de todo o mal).
Quando sentir que a bola branca já está preparada, agasalhada e protegida, deixe-a voar: pense que ela está percorrendo o lugar onde você está e que dela você pode ver este ambiente com detalhes (faça isso com calma, gaste o tempo necessário para aprender a observar os objetos e os fenômenos através da bola branca).
Depois de percorrer lugares próximos, mande-a para um lugar bem alto, bem distante. Eu sugiro que a deixe na altura em que os aviões voam. Deixei-a lá por alguns instantes. Tente ver, através da bola branca, a sua cidade do alto (perceba as ruas, os prédios, as casas, os ruídos da noite urbana etc).
Agora, lentamente, faça com que a nossa (sua) preciosa bola vá subindo, subindo... Mande-a para fora da Terra, veja o nosso Planeta (olha que lindo: desta altura, já não ouvimos mais nada). Os problemas humanos ficaram para trás e nós estamos nos afastando deles muito rapidamente. (*)
Perceba que sensação boa. A paz deste momento é realmente imensa, mas ela pode ser ainda maior.
Então respire bem, bem fundo. Sinta (se não conseguir, apenas imagine) que o ar que enche seus pulmões não é ar, mas energia cósmica, que está deixando a bola branca cada vez mais branca (ela, a cada respiração, torna-se mais e mais Você).
Agora, reúna muita, muita, muita (precisa ser uma quantidade realmente muito grande) de energia cósmica na bola e faça-a, em um movimento muito veloz, chegar até o corpo celeste escolhido no começo do exercício. (**)
(*) – este momento é fundamental. Perceba que a bola branca, ao observar o Planeta, já não pertence mais a ele. Ela está fora dele. Ela sabe que ele não é mais a sua casa (apesar de guardar profunda gratidão pelo seu antigo lar). A bola branca mora num “lugar” onde não existe tempo, espaço, inveja, dor, sofrimento, guerra, vontade, orgulho, apego ou quaisquer limitações. Sua casa é o Infinito.
Assentamento - Chico Buarque
Quando eu morrer, que me enterrem na
beira do chapadão
-- contente com minha terra
cansado de tanta guerra
crescido de coração
Tôo
(apud Guimarães Rosa)
Zanza daqui
Zanza pra acolá
Fim de feira, periferia afora
A cidade não mora mais em mim
Francisco, Serafim
Vamos embora
Ver o capim
Ver o baobá
Vamos ver a campina quando flora
A piracema, rios contravim
Binho, Bel, Bia, Quim
Vamos embora
Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilim
Vamos embora
"tem estrela do céu
e estrela do mar
então por que não ter
vara de pescar estrela no ar?"
A gente já tinha desvendado alguns mistérios juntos naquela mesma noite. Eu e damião. Mostrei pra ele como a sombra se alimentava de luz, e como podemos representar animais na parede, com a sombra da mão projetada.
Na última quinta-feira a polícia federal interrogou um homem acusado de matar, esquartejar e comer os restos mortais de 3 animais em sua própria casa, no sul do país. Após os primeiros exames os policiais disseram que o homem não aparenta retardamento mental nem se mostra agressivo, o que intriga os investigadores.
Ele é casado, pai de 2 filhos e trabalha em uma multinacional há 6 anos.
Há indícios de que seus dois filhos e sua esposa também tenham participado do crime, como conta o chefe da operação José Fernandes:
“Quando nós chegamos no local havia apenas sangue e restos dos animais mortos. A família toda estava dentro de casa e se recusava a abrir as portas para nós. Ficamos assustados com a naturalidade com que eles falavam do acontecido.”
Ainda em entrevista à nossa redação, o capitão José disse que, aparentemente, os animais mortos eram 1 galinha, 1 porco e 1 vaca.
FONTE: Terra, planeta. 28/out/2048