O amor é líquido, como a chuva e a lágrima. Como quando saio
de casa de manhã cedinho e sinto o cheiro a umidade da chuva que virá. Como
quando numa madrugada de vinho e amizade, a tormenta se aproxima devagar e de
repente o céu de nuvens se ilumina de raios escondidos e esperamos com
ansiedade curiosa o barulho do trovão que com certeza virá. A certeza de que
virá e será mais alto que o anterior – ou não –, mas virá, e é depois, porque
somos tão pequenos nessa imensidão de universo, e somos tão grandes nesse
universo dentro de nós. E aí é quando a terra se acalma, se amansa, se molha na
sua secura diária, se assenta e se reconhece terra. Mas é noite e a chuva
também mata muita gente, e alaga as ruas e inunda as casas. E sempre que chove
me vem esse mesmo desejo inocente de que a chuva caia leve e paciente para
todos e todas. Porque ela é linda, e não pode ser que a beleza sempre tenha que
vir acompanhada da dor. Tanto que esperávamos por ela, disso se falava pelas
ruas, “que llueva, que llueva”, e a terra se assenta um pouco. Eu me assento,
porque olho o pátio, e a gata, assustada, brinca com as gotas que caem. Escuto o
barulho da chuva nas plantas e a risada do Dani, coloco Piazzolla no rádio
porque me parece que é música feita pras noites de tormenta. Me assento e me
acalmo, porque a chuva é líquida e simples como o amor, e a gente só aceita e ri
e chora e luta.
O amor é líquido como quando choro, e o sentimento vira água
salgada que brota dos meus olhos e me molha a cara, me assenta o rosto, e é sentimento
materializado líquido: aquele nozinho que se forma no peito, mais lá dentro que
o coração, naquele dentro infinito que senti um dia como o universo – o universo
infinito que habita dentro de mim. Esse nó vai subindo e vai se desatando, com
paciência e sem pressa, como quem caminha pela minha garganta querendo e
sabendo sair. E sobe, sobe até a cabeça, se concentra nos olhos por um segundo
para então se desfazer – e se formar lágrima, gota, rio de água salgada,
cachoeira de mim. E lava, limpa, chove e assenta.
O amor é líquido como a Ayahuasca, o suor, o amor. Como
quando entro no mar e esqueço quem sou; como quando entro no rio e já não tenho
corpo, porque sou água que me leva com a correnteza e eu vou, lenta e precisa,
conhecendo montanhas e corpos, banhando pedras e folhas. E às vezes sou mangue,
outras sou lago, e sempre sempre deságuo no mar. É assim como mergulhar no
amor, todos os dias; lembrar que o amor é líquido, é sangue vermelho fluindo, é
a água para o mate ou o café, é aquela vontade de nascer e crescer, mas também
às vezes voltar para a barriga da mãe – mergulhada em amor.
Mergulhar no amor todos os dias de nossas vidas.
O amor é lindão!
ResponderExcluirEu cheguei um tanto quanto agitada..
ResponderExcluirsentei e logo abri o Cosmos, e ai..
inesperadamento vejo tantas palavras tocarem meu coração como gotas de chuva...
Lindo, lindissimo!
Vivamos então de chuvas de amor!