sábado, 18 de agosto de 2012

O amor é líquido



O amor é líquido, como a chuva e a lágrima. Como quando saio de casa de manhã cedinho e sinto o cheiro a umidade da chuva que virá. Como quando numa madrugada de vinho e amizade, a tormenta se aproxima devagar e de repente o céu de nuvens se ilumina de raios escondidos e esperamos com ansiedade curiosa o barulho do trovão que com certeza virá. A certeza de que virá e será mais alto que o anterior – ou não –, mas virá, e é depois, porque somos tão pequenos nessa imensidão de universo, e somos tão grandes nesse universo dentro de nós. E aí é quando a terra se acalma, se amansa, se molha na sua secura diária, se assenta e se reconhece terra. Mas é noite e a chuva também mata muita gente, e alaga as ruas e inunda as casas. E sempre que chove me vem esse mesmo desejo inocente de que a chuva caia leve e paciente para todos e todas. Porque ela é linda, e não pode ser que a beleza sempre tenha que vir acompanhada da dor. Tanto que esperávamos por ela, disso se falava pelas ruas, “que llueva, que llueva”, e a terra se assenta um pouco. Eu me assento, porque olho o pátio, e a gata, assustada, brinca com as gotas que caem. Escuto o barulho da chuva nas plantas e a risada do Dani, coloco Piazzolla no rádio porque me parece que é música feita pras noites de tormenta. Me assento e me acalmo, porque a chuva é líquida e simples como o amor, e a gente só aceita e ri e chora e luta.

O amor é líquido como quando choro, e o sentimento vira água salgada que brota dos meus olhos e me molha a cara, me assenta o rosto, e é sentimento materializado líquido: aquele nozinho que se forma no peito, mais lá dentro que o coração, naquele dentro infinito que senti um dia como o universo – o universo infinito que habita dentro de mim. Esse nó vai subindo e vai se desatando, com paciência e sem pressa, como quem caminha pela minha garganta querendo e sabendo sair. E sobe, sobe até a cabeça, se concentra nos olhos por um segundo para então se desfazer – e se formar lágrima, gota, rio de água salgada, cachoeira de mim. E lava, limpa, chove e assenta.

O amor é líquido como a Ayahuasca, o suor, o amor. Como quando entro no mar e esqueço quem sou; como quando entro no rio e já não tenho corpo, porque sou água que me leva com a correnteza e eu vou, lenta e precisa, conhecendo montanhas e corpos, banhando pedras e folhas. E às vezes sou mangue, outras sou lago, e sempre sempre deságuo no mar. É assim como mergulhar no amor, todos os dias; lembrar que o amor é líquido, é sangue vermelho fluindo, é a água para o mate ou o café, é aquela vontade de nascer e crescer, mas também às vezes voltar para a barriga da mãe – mergulhada em amor.

Mergulhar no amor todos os dias de nossas vidas.

2 comentários:

  1. Eu cheguei um tanto quanto agitada..
    sentei e logo abri o Cosmos, e ai..
    inesperadamento vejo tantas palavras tocarem meu coração como gotas de chuva...
    Lindo, lindissimo!
    Vivamos então de chuvas de amor!

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