sábado, 31 de outubro de 2009

Dos avanços tecnológicos...

... e suas ferramentas para aproximar pessoas:


Ou: "Não liguei pra dar os parabéns, mas mandei uma mensagem pelo Orkut"

(Clique na imagem para visualisar melhor)
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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A religiosidade autêntica é o florescer do seu coração.

"Uma religião não deveria ser uma organização morta, mas um tipo de religiosidade, uma propriedade que inclui verdade, sinceridade, naturalidade, um profundo relaxamento em relação ao cosmos, um coração amoroso, uma afabilidade para com o todo. Para isso, nenhuma escritura sagrada é necessária.

Na verdade, não há escrituras sagradas em lugar nenhum. As assim chamadas escrituras sagradas nem mesmo provam ser boa literatura. É bom que ninguém as leia porque elas estão cheias de pornografia.

Uma religiosidade autêntica não precisa de profetas, salvadores, livros sagrados, igrejas, papas ou sacerdotes, porque religiosidade é o florescer do seu coração, é chegar ao centro do seu próprio ser.

E, no momento em que você chega ao centro do seu próprio ser, há uma explosão de beleza, de bênção, de silêncio, de luz. Você começa a se tornar uma pessoa totalmente diferente.

Tudo o que era escuro em sua vida desaparece, e tudo o que era errado também desaparece. O que quer que você faça é feito com absoluta consciência.

Eu conheço apenas uma virtude, que é a consciência."

(Osho).

A festa


"Neste quarto de fogo solitário
no telhado um letreiro esfumaçado
candeeiro no peito iluminado
o cigarro no dedo incendiário"
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***

Organizar festas nunca tinha sido realmente fácil para ele, embora ele sempre tivesse se metido a promoter dos eventos dos colegas. Mas esta noite damião nem estava preocupado. Primeiro porque não era bem uma feeeesta assim, na acepção tradicional da palavra. Segundo porque não tinha como dar errado: “era uma reuniãozinha entre amigos, todos ávidos por aquela mesma ‘vibe’”, pensava ele (tentando mais uma vez afastar da mente essa palavra de que não gostava – estadunidense, “modinha”, mas que sempre surgia como melhor opção pra descrever essa sensação).

A casa era grande, com uma área externa fabulosa, que contava com um jardim muito bem acabado, um vasto espaço com mesas e cadeiras, além de uma piscina imponente. Ali já dera festas memoráveis, é certo, “mas hoje não era pra essas coisas”, pensou. Hoje o modelo de festa era outro; mais para um sarau mesmo, como sempre sonhou (e nunca, até então, tinha conseguido fazer). Preferiu, então, o subsolo da casat: muito menos recursos festivos, claro, mas tinha o suficiente (e adequado).
.
***

Ia caindo a noite e damião terminava de arrumar o ambiente pra receber os (poucos) convidados. Como a casa era construída em desnível, pregada à encosta de um monte, mesmo do subsolo tinha uma agradável vista para o largo espaço de mata ainda virgem que a cercava por detrás. Ele revestiu todo o chão com tapetes e almofadas, acendeu um incenso em cada extremidade do pequeno espaço, apagou as luzes centrais (mais fortes), deixando a cargo da penumbra a tarefa de permitir a visão (ainda faria aquela festa no escuro absoluto com que também sempre sonhara); certificou-se de que colocara os vinhos na mesinha central (onde também arrumou o eficientíssimo narguile), ligou o aparelho de som com as músicas pré-selecionadas e pronto: estava organizado o cenário. Aconchegante como ele queria. Faltavam apenas os atores.
.
***

Uns foram trazendo um amigo aqui, outro acolá, outros trouxeram suas namoradas, seus namorados, teve gente que trouxe o primo distante que tava hospedado em casa, e por aí vai”, respondeu damião, ao questionamento de um amigo surpreso pelo rumo que aquela festa ia tomando, tão distante do projeto inicial.

Não completara nem a primeira hora e já era a terceira vez que saíam para buscar coisas que julgaram faltosas ali. Primeiro foi a cerveja, depois o gelo e por último o disco da nova banda que estava “bombando” no país.

O subsolo já não abrigava ninguém, todos subiram para a boa e velha área da piscina. Havia mais do que o triplo do número esperado de convidados. Tinha gente caída desacordada por excesso de álcool, homem pelado dentro da piscina, menina carinhosa dando pedaços de presunto ao cachorro, um sujeito dançando com o ouvido colado à caixa de som (esta muito mais potente do que aquela, e que a essa hora tocava estridente um som metálico) e até um casal (ou eram três pessoas?) trancado nas dependências da lavanderia.

I-s-s-a-q-u-i t-á-m-u-i-t-o-d-e f-u-d-e-r!”, gritava ao pé do ouvido de damião o cunhado da namorada de um outro amigo seu.

E estava mesmo “d-e-f-u-d-e-r”. Aquela festa (quem duvida?) estava realmente transbordando alegria. Todos (rigorosamente, todos) estavam muito contentes, muito mesmo. Radiantes até. Era um transbordar de excitação e júbilo. Um sucesso.
.
***

Já ia o sol alto quando o último conhecido qualquer de um convidado deixou a casa, e damião voltou ao subsolo da casa lentamente. Ele tomou de uma almofada velha e sentou-se à beira da mesinha de centro. Queimou mais um incenso e deixou-o deitado no chão, derretendo livremente. Sorveu um gole de vinho que sobrara no fundo de uma taça esquecida, reacendeu o narguile e recostou a cabeça confortavelmente.
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***

Puxou um farto trago, fechou os olhos e decretou em pensamento: que comece a festa.
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***

Da série "Catarse nossa de cada dia"

Totalitarismo X totalitarismo

Menina: - Quero ser pobre!
Menino: - Como assim? Pobre?! Mas por quê?
Menina: - Ora, é muito simples: existem dois lados, o dos opressores e o dos oprimidos; o dos pobres e o dos ricos. Assim, entre oprimir ou ser pobre, fico com a segunda opção.
Menino: - Hum...interessante. Mas você não acha que existem outras variantes, não?
Menina: - Como assim "outras variantes"?
Menino - Não sei, é que pra mim esse pesamento bipolar sempre pareceu um pouco simplista...
Menina: - Simplista?! Como assim? Claro que não, muito pelo contrário, simplista são todas os outros pesamentos!
Menino: - Mas é que, na minha opinião, existem fatores outros a complexizar a questão; além do mais, como é possível quantificar a mais valia? Como você saberá que o seu trabalho (e sua remuneração) te faz pertencer ao grupo dos oprimidos e não dos opressores? Tudo isso não é muito abstrato?
Menina: - Suas perguntas estão ficando estranhas e tendenciosas.
Menino: É que não consigo entender...
Menina: - Ah, siceramente, não aguento mais ouvir tanta besteira! Não dá pra discutir com essas pessoas que nunca leram Marx! Vocês, senso comum, são mesmo um bando de alienados! Alienados!! Alienados!!!
Menino: - Mas era só uma pergunta...
Menina: - Calaaboca, Alienado!
Menino: - Mas...
Menina: - Calaaboca!

Para o texto “Passeando” de Luis Pereira


Li o texto “Passeando” de Luis Pereira neste post de Sandro aí de baixo (“Da dureza à maciez”). Fui comentar, mas o comentário se tornou muito importante pra mim (além de muito grande), então decidi colocar aqui, na forma de texto.

O comentário era isso:

Minha definição pra este texto: lindamente angustiante (ou: pétala de uma tonelada). Ele define (através da Beleza com letra maiúscula) a atual fase da minha (querida) Angústia.

Vou explicar. Em agosto deste ano, eu comecei a escrever num caderno velho tudo o que eu estava sentido naquela época. Vou digitar aqui a primeira coisa que escrevi:

‘Minha oração de hoje será este texto.

Ando pensando muito numa coisa: por que precisamos ser um pouquinho, se queremos e podemos ser muito?

Por que tenho que viver uma vida sem sentido, se eu já sei da maneira que quero viver?

Tenho 23 anos. Se viver até os 73 anos, só terei mais 50 anos pra viver. Já estou 1/3 morto. 23 anos já acabaram. Deles eu só tenho lembranças, aprendizados, mas vida mesmo, tempo já não tenho mais nenhum desses anos.

Sim, só tenho mais 2/3 de vida pra viver. É muito pouco tempo. Não que vá acabar tudo, porque eu sei que não acaba.

Na verdade, eu posso morrer antes também. Se morrer com 29 anos, só terei mais 6 anos pra viver. Minto. Terei 5 anos e alguns dias somente.

Então, pra que cargas d’água eu vou perder minha vida em uma vida vivida estupidamente? Por que afinal eu tenho medo? Medo de quê? Medo de ter uma vida plena e feliz? Medo eu tenho que ter (e tenho muito na verdade) de viver uma vida que não me agrade.

Acordar tarde ainda cansado, trabalhar em um trabalho que não me satisfaça. Buscar uma coisa que só me trás sofrimento e frustração: dinheiro. Não preciso de um celular tocando o tempo todo. Não preciso do melhor carro do mundo. Não preciso de muitas coisas pra ser feliz. Preciso de paz de espírito. Preciso me sentir útil na vida das pessoas. Preciso ter pessoas para amar e ser amado por elas. Preciso, e preciso muito, de pessoas para conversar. Preciso de um canto e um momento só meu, todo dia, mas sem sono, sem pressa, sem a pressão do tempo que me oprime tanto.

Acho que é por isso que preciso morar numa cidade pequena, onde as pessoas se conheçam bem, onde o tempo não oprima tanto. Preciso ficar mais perto do que parece estar perto de Deus. O dinheiro, os juízes e advogados corruptos, a maluquice da cidade grande, a pressa, as pessoas puxa-sacos, as festas de gente chata e arrogante, os ambientes intoxicados não estão perto de Deus. Não preciso muito pra saber disso, meu coração sabe.

Eu preciso encontrar pessoas que pensem como eu.

Preciso criar um jeito de viver, me alimentar (e que se dane as regras gramaticais que artificializam a língua), me locomover, morar, me vestir, sem precisar contrariar os desejos da minha alma.

Poderia ser uma comunidade. Ou um projeto. Não, acho legal uma comunidade. Várias famílias, vários amigos morando em um lugar. Estas pessoas gostam de viver da maneira mais livre possível. Gostam de buscar coisas que alimentem seus Espíritos. Não gostam de opressão, sejam elas morais, físicas ou psicológicas. Essas pessoas gostam de ajudar as outras pessoas. Gostam de ajudar todas as coisas’

O resto é intimo demais pra publicar, mesmo aqui. Mas é isso. Este pedaço do texto de Luis diz tudo o que sinto: “Ter me esquecido dessas coisas, desses fundamentos, que eu sempre soube, me deixa mais frio, mais rígido, mais cinza, mais parecido com o cimento do caminho que não quero seguir. E ver as pessoas que amo a minha volta seguir por esse caminho, isso fundamentalmente, também o faz... Existe um grito escancarado ali dizendo que outra vida é possível.’

Parabéns pelo texto (sublime), mas parabéns principalmente pela oportunidade que você tem de saber disso tudo nesta vida.

Espero que não sejamos velhos frustrados.


(...)


Se dêem um presente também: http://barco-iris.blogspot.com/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Formiga Teresa e a Mamãe Querida.


Uma formiga anda pela pia da minha cozinha.
Como nós adoramos dar nome pra tudo, vamos chamar essa formiga de Teresa (não tenho a mínima idéia se ela é macho ou fêmea, mas como formiga é uma palavra feminina, Teresa me parece um bom nome).
Pois bem, Teresa é uma daquelas formigas que ficam procurando alguma coisa (acho que é comida, mas pode ser qualquer outra coisa, né?).
Teresa tem 3 dias, 6 horas, 9 minutos e alguns segundos de vida, mas já trabalha feito gente (opa! “formiga”) grande. Pensando bem, acho que Teresa nem dorme. De bebezinha (formiguinha) até agora, acho que só tem trabalhado. Pega uma migalha de pão aqui, um farelo de biscoito ali, a metade de um grão de arroz que caiu do prato do meu pai no almoço acolá e leva tudo pra um buraquinho que fica do lado do fogão (eu acho que deve ser a entrada de um formigueiro, mas aquela parede branca nem um pouco se parece com aqueles formigueiros que vemos nos gramados).
(...)
No seu quarto dia de vida, nossa amiga Teresa encontrou um pequeno pedaço de um bolo de chocolate que eu havia comido no dia anterior. Pra mim, aquele pequenino pedaço de bolo era muito, muito pequenino, mas pra Teresa, ainda tão jovem, era algo descomunal (tinha mais de duas vezes o seu tamanho). Mas Teresa não se intimidou: usou suas anteninhas ainda pouco habilidosas para agarrar com força aquele bolo, colocou-o sobre suas costas e começou a carregar-lo para o buraquinho na parede.
(...)
Naquele dia minha mãe havia acordado mais cedo. Tomou um copo d’água, colocou o copo dentro da pia (fez tudo isso ainda com muito sono). Então, por algum motivo qualquer, ela olhou pros farelos de bolo de chocolate que eu havia comido (aí que culpa). Por um instante, minha querida mãe pensou em deixar aquilo pra lá, fazer um café e ligar a televisão, mas não. Pegou um pano molhado que estava na pia, torceu bem forte e num movimento terrivelmente veloz passou sobre as migalhas de bolo. Teresa, ao observar aquele imenso sei lá o quê movimentando-se numa fúria que ela jamais havia visto em qualquer outro objeto, largou o pedaço de bolo e correu. Correu pra qualquer lugar. Correu com toda energia que possuía em seu pequeno corpinho. Correu, correu, correu...
Até que, num movimento quase orquestral, minha mãe abriu novamente a torneira, molhou o pano e depois de dar uma rápida torcida, passou aquele imenso pedaço de tecido úmido sobre o frágil, delicado e desesperado corpo de Teresa.
(um minuto de silêncio)


(...)


Próximo capítulo: “A Dançarina Feliz e O Honesto Alienígena Azul de Cem Quilômetros de Altura”.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Galeano... (d)O teatro do bem e do mal

Os Invisíveis

Aquilo começou com uma explosão de violência. Poucos dias antes do natal, numerosos famintos tomaram de assalto os supermercados. Entre os desesperados, como costuma ocorrer, infiltraram-se uns quantos delinqüentes. E nessas horas de caos, enquanto corria o sangue, o presidente da Argentina falou pela televisão. Palavra mais ou palavra menos, disse: a realidade não existe, as pessoas não existem.

E então nasceu a musica. Começou devagarinho, soando nas cozinhas de algumas casas, colheres batiam nas panelas, e saiu pelas janelas, pelas sacadas. E foi-se multiplicando de casa em casa e ganhou as ruas de Buenos Aires. Cada som se uniu a outros sons, pessoas se uniram com pessoas, e na noite explodiu o concerto da revolta coletiva. Ao som das panelas e sem outras armas senão estas, a multidão invadiu os bairros, a cidade, o país. A policia respondeu a balaços. Mas as pessoas, inesperadamente poderosas, derrubaram o governo.

...

Os invisíveis, fato raro, tinham ocupado o centro do palco.

Não só na Argentina, não só na América Latina, o sistema está cego. O que são as pessoas de carne e osso? Para os mais notórios economistas, números. Para os mais poderosos banqueiros, devedores. Para os mais eficientes tecnocratas, incômodos. E para os mais exitosos políticos, votos.

O movimento popular que defenestrou o presidente De la Rúa foi uma prova de energia democrática. A democracia somos nós, disseram os populares, e estamos fartos. Ou acaso a democracia consiste somente no direito de votar a cada quatro anos? Direito de eleição ou direito de traição? Na Argentina, como em tantos outros países, as pessoas votam, mas não elegem. Votam em um, governa outro: governa o clone.

...

No governo, o clone faz ao contrario tudo o que o candidato prometeu durante a campanha eleitoral. Segundo a célebre definição de Oscar Wilde, cínico é aquele que conhece o preço de tudo e o valor de nada. O cinismo se disfarça de realismo; e assim se desprestigia a democracia.

As pesquisas indicam que a América Latina, hoje em dia, é a região do mundo que menos acredita no sistema democrático de governo. Uma dessas pesquisas, publicada pela revista The Economist, revelou a queda vertical da fé da opinião pública na democracia, em quase todos os países latino-americanos: segundo esses dados, recolhidos há meio ano, só acreditavam nela seis de cada dez argentinos, bolivianos, venezuelanos, peruanos e hondurenhos, menos da metade dos mexicanos, nicaragüenses e chilenos, não mais do que um terço de colombianos, guatemaltecos, panamenhos e paraguaios, menos de um terço de brasileiros e apenas um de cada quatro salvadorenhos.

Triste panorama, caldo gordo para os demagogos e os messias fardados: muita gente, sobretudo muita gente jovem, sente que o verdadeiro domicílio dos políticos é a cova do Ali Babá e os quarenta ladrões.

...

Uma lembrança de infância do escritor argentino Héctor Tizón: na Avenida de Mayo, em Buenos Aires, seu pai mostrou-lhe um homem que, na calçada, atrás de uma mesinha, vendia pomadas e escovas para lustrar sapatos:

- Aquele senhor se chama Elpidio González. Olha bem. Ele foi vice-presidente da república.

Eram outros tempos. Sessenta anos depois, nas eleições legislativas de 2001, houve uma enxurrada de votos em branco ou anulados, algo jamais visto, um recorde mundial. Entre os votos anulados, o candidato triunfante era o pato Clemente, um famoso personagem de historia em quadrinhos: como não tinha mãos, não podia roubar.

...

Talvez a América Latina jamais tenha sofrido um esbulho político comparável ao da década passada. Com a cumplicidade e o amparo do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, sempre exigentes em matéria de austeridade e transparência, vários governantes roubaram até ferraduras de cavalos a galope. Nos anos das privatizações, leiloaram tudo, até as lajotas das calçadas e os leões do zoológico; e o produto do leilão se evaporou. Os países foram vendidos para pagamento da dívida externa, segundo mandavam os que de fato mandam, mas a dívida, misteriosamente, multiplicou-se, nas mãos ligeiras de Carlos Menem e muitos outros de seus colegas. E os cidadãos, os invisíveis, ficaram sem países, com uma imensa dívida para pagar, pratos quebrados da festa alheia.

Os governos pedem permissão, fazem seus deveres e prestam exames: não diante dos cidadãos que votam, mas diante dos banqueiros que vetam.

...

Agora que estamos todos em plena guerra contra o terrorismo internacional, cabem certas dúvidas. O que devemos fazer com o terrorismo de mercado, que está castigando a imensa maioria da humanidade? Ou não são terroristas os métodos dos altos organismos internacionais, que em escala planetária dirigem as finanças, o comércio e o resto? Acaso não praticam a extorsão e o crime, ainda que matem por asfixia e de fome e não por bomba? Não estão despedaçando os direitos dos trabalhadores? Não estão assassinando a soberania nacional, a industria nacional, a cultura nacional?

A Argentina era a aluna mais aplicada do Fundo Monetário, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio. E foi o que se viu.

...

Damas e cavalheiros: primeiro os banqueiros. E onde manda capitão, não manda marinheiro. Palavras mais ou palavras menos, esta foi a primeira mensagem que o presidente George W. Bush enviou à Argentina. Da cidade de Washington, capital dos Estados Unidos e do mundo, Bush declarou que o novo governo argentino deve “proteger” seus credores e o fundo Monetário Internacional e levar adiante uma política de “maior austeridade”.

Enquanto isso, o novo presidente provisório argentino, que substitui De la Rua até as próximas eleições, meteu os pés pelas mãos em sua primeira declaração à imprensa. Um jornalista perguntou o que iria priorizar, a dívida ou as pessoas, e ele respondeu: “A dívida”. Dom Sigmund Freud sorriu em seu túmulo, mas Adolfo Rodríguez Saá logo corrigiu a resposta. Pouco depois, anunciou que suspenderia os pagamentos da dívida e destinaria esse dinheiro à criação de fontes de trabalho para as legiões de desempregados.

A dívida ou as pessoas, esta é a questão. E agora as pessoas, os invisíveis, exigem e vigiam.

...

Há coisa de um século, Dom José Batlle y Ordóñez, presidente do Uruguai, assistia a uma partida de futebol. E comentou:

- Que bonito seria se houvesse 22 espectadores e dez mil jogadores.

Talvez se referisse à educação física, que ele promoveu. Ou estava falando, quem sabe, da democracia que imaginava.

Um século depois, na Argentina, o país vizinho, muitos manifestantes envergavam a camiseta de sua seleção nacional de futebol, seu sentido símbolo de identidade, sua alegre certeza de pátria: vestindo a camiseta, invadiram as ruas. As pessoas, fartas de serem espectadoras de sua própria humilhação, invadiram a cancha. Não vai ser fácil desalojá-las.

Eduardo Galeano

(2001)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Da dureza à maciez


Poderia ficar só pra mim, mas era deleite demais. Nem o maior dos egoístas poderia reter consigo tanta beleza.

Divido, pois:

http://barco-iris.blogspot.com/

Que aproveitem.

[Uma minúscula homenagem ao eterno "comandante", Che]

sábado, 24 de outubro de 2009

Rua da Aurora.




Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo
e exigente chamar.
Eu já nasci descendo
a serra que se diz do Jacarará,
entre caraibeiras
de que só sei por ouvir contar
(pois, também como gente,
não consigo me lembrar
dessas primeiras léguas
de meu caminhar).

Deste tudo que me lembro,
lembro-me bem de que baixava
entre terras de sede
que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
aquela grande sede de palha,
grande sede sem fundo
que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
caminho de pedras eu buscava,
que não leito de areia
com suas bocas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.


Esses versos são da autoria do mestre João Cabral de Melo Neto, o "poeta engenheiro". O Rio Capibaribe desce Pernambuco entre os canaviais e vilazinhas. Se junta ao mar entre Olinda e Recife.

Fique na tua, rapa!

&*&*&&*¨&¨&¨%%$$$$#$#&&*&&¨¨¨%%$$##




eu devo estar ficando louco?
será que eu escutei errado?
a vida no maior sufoco
e os caras de papo furado

todo cuidado é pouco
nem pense em ficar parado
estamos no melhor da festa
dançando no campo minado

os sinais estão no ar
nas esquinas do país
mensagem pelo celular
água batendo no nariz
eu devo estar ficando louco?
será que eu escutei errado?
a vida no maior sufoco
e os caras de papo furado?

será que eu vivo em outro mundo
distante e inexplorado?
na hora da invasão,silêncio
dançamos no campo minado

os sinais estão no ar
no chão da praça da matriz
mensagem pelo celular
cortar o mal pela raiz

os sinais estão no ar
os sinais estão no ar

Engenheiros do Havaí

Para quebrar...

The fun Theory
("diversão pode, obviamente, mudar o comportamento para melhor")


Temas macabros - e batidos.


"First they came for the communists, and I did not speak out—because I was not a communist;
Then they came for the socialists, and I did not speak out—because I was not a socialist;
Then they came for the trade unionists, and I did not speak out—because I was not a trade unionist;
Then they came for the Jews, and I did not speak out—because I was not a Jew;
Then they came for me—and there was no one left to speak out for me.First they came for the communists, and I did not speak out—because I was not a communist"

Wikipedia: First they came ..." is a popular poem attributed to Pastor Martin Niemöller (1892–1984) about the inactivity of German intellectuals following the Nazi rise to power and the purging of their chosen targets, group after group.


"Mãe, eles ficam calados.
Mãe eles consentem que
A ignomínia me difame.
Mãe, ninguém cala a boca aos assassinos."

Traduçã do Poema de Paul Celan, A Morte é uma flor.

Da Minha série: "temas macabros e batidos".

It's evolution, baby! (*)

Amor de Graça - O Círculo
Eles acordam todo dia
Antes do dia nascer (2x)
Cheiro de café com pão
Pão no fogo
Acordar o pão no fogo
Beijos que dormem pelo chão de casa (2x)
Beijos de uma mulher forte
Sua sorte é
Que não lhe falta amor (2x)
De graça
Fila na sombra do poste, no ponto
Ele pensa em melhorar
Fila na sombra do poste no ponto..
Ele pensa:
Hora de agradecer
Hora de considerar
Hora de tudo rever
Hora de reverberar
Lamentei, já quis a morte, fui da faca o corte mas me levantei
Entendi as linhas tortas, destranquei as portas
Todo mal me fez bem. (**)


William Blake: "Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Nossa Santidade


"- O que sua Santidade pensa do vegetarianismo?

Dalai-Lama: É o que há de melhor. Devemos realmente incentivar o vegetarianismo. E mesmo quando não se consegue ser perfeitamente vegetariano, quando damos um banquete ou uma recepção, é melhor propor apenas pratos vegetarianos. Algumas pessoas dizem que são vegetarianas e consideram os peixes e outros animais como legumes. Quando se pretende ser vegetariano, deve-se considerar os siris e outros "frutos" do mar como carne. 'Vegetariano' quer dizer 'aquele que só come vegetais'. Nos dias de hoje, existem pessoas que dizem ser vegetarianas, mas, quando elas entram num restaurante, é preciso observar como os peixes e os siris do aquário arregalam os olhos de medo!"

Dalai-Lama. Pacificando o Espírito, Meditação sobre as Quatro Nobres Verdades de Buda. Ed. ABDR, 2001. 4 ediçao. Pág. 124.

Aula de hoje

Professor: nhê, nhê, nhê... nhê, nhê, nhê... nhê, nhê, nhÊÊ!

Aluno: professor, mas blá, blá, blá... blá, blá, blá,... blá, blá, blÁÁ?

Professor: não, aluno, blá, blá, blá não está correto. Como eu havia dito, o correto é nhê, nhê, nhê... nhê, nhê, nhê... nhê, nhê, nhÊÊ!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Da série: Baixe a bola, humano! (Parte 01)

Amizade entre espécies: por que não?

Pra começar a série, um videozinho de uma campanha publicitária contra o abandono de 'animais domésticos'.

Apesar do medo de restringir, de logo, o enfoque, decidi iniciar os trabalhos com uma pitadinha de sensibilidade. Só pra já ir demonstrando o equívoco da falácia de que 'animais' não têm sentimentos.

Continuação em breve. Até lá!

Os 21 tipos de Orgasmos Femininos!


1 -Asmática....................: Uhh... Uhhh...uhhh
2 -Geográfica.................: Aqui, aqui, aqui, aqui....
3 -Matemática................: Mais, mais, mais, mais...
4 -Religiosa...................: Ai meu Deus , ai meu Deus...
5 -Suicida......................: Eu vou morrer , eu vou morrer...
6 -Homicida.....................: Se você parar agora, eu te maaaaaatoooo!!!!
7 -Sorvete.......................: Ai Kibon, ai Kibon, ai Kibon...
8 -Zootecnista.................: Vem, meu macho!!! Vem, meu Macho!!!
9 -Torcedora...................: Vai, vai, vai...
10 -Professora de Inglês. :........... Ohhh !!! YES !!!Ohhh...My...God...!!!
11 -Margarina..................: Que Delícia, que delícia...
12 -Negativa....................: Não.... Não.....Não.....
13 -Positiva.....................: Sim ..Sim... Sim...
14 -Pornográfica..............: Puta que o Pariu....vai filho da puta....
15 -Serpente Indiana.......: Ssssssssss........... Ssssssssss...
16 -Professora..................: Sim .... isso ....por aí.....exato....isso....
17 -Sensitiva...................: Tô sentindo.... tô sentindo...
18 -Desinformada............: O que é isso ? ... O que é isso?...
19 -Degustadora.................: Ai gostoso... gostoso... gostoso...
20 -Cozinheira..................: Mexe... Mexe....Mexe...
21 -Casada................: Olha só, a empregada não limpou o teto!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tempo inclemente, destino ausente.


Nós, daqui debaixo, somos pulgas na pelagem do universo. Sempre se inquietando, querendo saber, querendo ganhar, querendo cruzar barreiras. Querendo dobrar tudo à nossa vontade! Nós e nossa tolice desmedida de todos os dias. Veja pra isso, nós queremos "ganhar tempo". Aperta o botão do elevador, pega o atalho, avança o sinal, como se para além da curva houvesse qualquer coisa de importante da qual não podemos abrir mão.

Olhe que o tempo não se ludibria. Seguimos salvando tempo, provavelmente na ânsia do "life is too short", pra chegar num destino que nos desconhece e nós desconhecemos, na expectativa de descer as malas num futuro (que na verdade é um vazio sem rosto de que não interessa a ninguém). Nós, pulguinhas infames, nos projetamos para além do que podemos, sem perceber a paisagem pelo caminho. "Eu tenho que ir." Nãaaao, você não TEM que ir. Quanto você perdeu porque "tinha" que ir?

Nelson Rodrigues já dizia, o pior jogador é aquele que só vê a bola. Ignora o jogo, a grama, o outro, porque tudo que tem em mente é o gol. Ora, se assim fosse pra assim ser, cada jogo de futebol poderia se resumir em cobranças de pênaltis. O mesmo procede aqui: só vemos o destino final como merecedor de atenção. Nós só queremos chegar lá embaixo o mais rápido possível, pra pegar o carro, na pressa sem causa e se mandar para qualquer destino que não importa. Velocidade, nosso prazer cretino! Eu não vi as flores que deixei pelo caminho. Por isso que chego aqui, no agora, com minha mala cheia ilusão.

Tempo, senhor de tudo! me diga quanto tempo do seu tempo vamos demorar pra perceber que o destino é a jornada.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Da série: reflexões sobre as mesmas coisas - Pressa


O amigo Bolota (que também responde pela perversa alcunha de Devapi), curioso como a zorra que é, tava me contando hoje de um questionamento que lera por aí, de um maluco qualquer por aí...

"O que você faz com os três segundos que ganha apertando o botão de fechar a porta do elevador?"

Rapaz, é fodis mesmo... Quer saber? Vá matar o Diabo! Que tanta pressa é essa que a gente tem, meu Jeová!?

Fiquei matutando isso por um tempo (como sempre, hem, Bola?), mas pouco. Deveria ter refletido mais sobre esse assunto, não vou mentir. Mas deu pra lembrar do pessoal que tem mania de apertar o botão de chamar o elevador insistentemente (ou com uma avidez dos infernos), mesmo quando (pasmem -?) o bicho já tá apertado (!). "Porreéssa, pai véi?", diria Marcos Antônio (o "transão").

Pois muito bem.

Chega agora de noite, tô aqui tranquilinho, pesquisando qualquer coisa idiota na internet (sobre controle de constitatitutecionalilicilidade), quando o miserávi do Gógle vem todo bonito me dar conselho de amigo:

"Dica: ganhe tempo teclando enter ao invés de clicar em 'Pesquisar'"

Puta que pariu a mulher do padre! Zorra... Vá dormir com esse barulho! Que isso, cabra? Eu não sei vocês, mas eu não levo nem os míseros três segundos pra clicar em "pesquisar" ali. Rapaz, é demais, , não?

Vá dormir, mas vá ligeiro... Pra não acordar tarde amanhã e sair apressado e (quem sabe?) atordoado: clicando nos botões do elevador e apertando "Pesquisar" de aú em site de busca.
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[Créditos da linguagem pseudo-revoltosa a Sêu Françuel, um escritor do cacete, no mínimo]

Exercício: A Bola Branca e o Corpo Celeste Eleito

Numa noite bem estrelada, deite-se num lugar que dê pra ver o céu.

Encontre uma posição bem confortável e dê uma relaxada: respire bem fundo e bem devagarzinho umas 10, 15 vezes.

Se acreditar em alguma coisa boa que não dê pra ver, reze pra ela (serve qualquer coisa).

Pronto, agora vamos começar o exercício.

Olhe por uns 3 segundos para os corpos celestes que mais chamem sua atenção (passe algum tempo fazendo isso).

Eleja o que mais tenha significado pra você (pode ser só o mais bonito, ou o que tenha o brilho mais intenso).

Olhe fixamente para esse corpo, só para ele. Tente pensar só nele (perceba que sua mente é bagunçada demais pra fazer isso por muito tempo, mas se esforce, sem nunca - isso é muito importante - ser rude com sua mente; afaste os outros pensamentos com carinho).

É completamente compreensível ficar com medo nesta hora ou nas próximas fases deste exercício: você está percorrendo estradas até agora desconhecidas. Perceba, no entanto, que você não tem medo do céu, você tem medo de você mesmo. Do silêncio (isso é novo pra você).

Mas, como sabemos que nada de mal pode acontecer conosco neste momento, continuamos (dica: se o medo se tornar insuportável, reze novamente, procure um ponto de conforto em alguma coisa que lhe transmita afeto e segurança).

Afastado (com carinho) o medo, crie uma imagem mental do corpo celeste eleito e feche seus olhos.

Pense por alguns segundos nos detalhes desta imagem, em tudo o que sua lembrança recente guardou dela para você. Faça isso por uns 2 minutos.

Tente imaginar agora uma bola branca, bem, bem branca. Imagine que esta bola é você. Não sua mente, não o seu corpo, tampouco a conjunção das duas coisas. Pense que ela é uma quarta via. Ela é você mesmo, é Você com “v” maiúsculo (se não entender isso, invente, não há problema).

Construída a bola branca, vamos preparar-la para o que vem mais à frente.

Pense que raios de todas as cores, saídos de todos os cantos se dirigem à bola. Atribua significados positivos, porém distintos aos raios (a cor rosa pode ser o amor da sua mãe, a cor verde a amizade dos seus amigos etc). Eles irão proteger a nossa bola branca querida de quaisquer ameaças ou desarmonias (sinta que seu medo está diminuindo, desaparecendo; não há mais nada a temer, já que os raios coloridos estão protegendo a bola branca de todo o mal).

Quando sentir que a bola branca já está preparada, agasalhada e protegida, deixe-a voar: pense que ela está percorrendo o lugar onde você está e que dela você pode ver este ambiente com detalhes (faça isso com calma, gaste o tempo necessário para aprender a observar os objetos e os fenômenos através da bola branca).

Depois de percorrer lugares próximos, mande-a para um lugar bem alto, bem distante. Eu sugiro que a deixe na altura em que os aviões voam. Deixei-a lá por alguns instantes. Tente ver, através da bola branca, a sua cidade do alto (perceba as ruas, os prédios, as casas, os ruídos da noite urbana etc).

Agora, lentamente, faça com que a nossa (sua) preciosa bola vá subindo, subindo... Mande-a para fora da Terra, veja o nosso Planeta (olha que lindo: desta altura, já não ouvimos mais nada). Os problemas humanos ficaram para trás e nós estamos nos afastando deles muito rapidamente. (*)

Perceba que sensação boa. A paz deste momento é realmente imensa, mas ela pode ser ainda maior.

Então respire bem, bem fundo. Sinta (se não conseguir, apenas imagine) que o ar que enche seus pulmões não é ar, mas energia cósmica, que está deixando a bola branca cada vez mais branca (ela, a cada respiração, torna-se mais e mais Você).

Agora, reúna muita, muita, muita (precisa ser uma quantidade realmente muito grande) de energia cósmica na bola e faça-a, em um movimento muito veloz, chegar até o corpo celeste escolhido no começo do exercício. (**)

(*) – este momento é fundamental. Perceba que a bola branca, ao observar o Planeta, já não pertence mais a ele. Ela está fora dele. Ela sabe que ele não é mais a sua casa (apesar de guardar profunda gratidão pelo seu antigo lar). A bola branca mora num “lugar” onde não existe tempo, espaço, inveja, dor, sofrimento, guerra, vontade, orgulho, apego ou quaisquer limitações. Sua casa é o Infinito.

(**) – se chegou até este ponto, já não precisa mais de auxílio algum. Agora é só achar uma posição bem confortável na poltrona, relaxar e gozar a viagem.
(***) - nosso querido Cosmos e Damião fez um álbum no perfil dele no orkut chamado "Alex Gray". As pinturas dele dão uma boa ajudada neste exercício. Ele dá algumas dicas de meditação, fala de diversos temas através da espiritualidade. Os quadros mostram a visão dele da Realidade. Ao ver-los (com muita calma), não enchergue figuras fantásticas, mas realidade pura, os fenômenos em si mesmos. É um grande privilégio ter a oportunidade de ver as obras deste cara.

Oração da Manhã

Aproveitando a oportunidade de deixar de desrespeitar o Universo, o Acaso e Deus, por pelo menos um dia, que hoje eu não reclame. Amém.

A era do nao saber




Era
A era a era do nao saber
a era do nao fazer
a era do deixar fazer
a era heroica
a era misteriosa
a nova era
de que era nova
era nova era
de que nova
da era
era era a era
de que era
a era erta
a era essa
a era erva
erva
erva era
era erva
erva
erva era
ERVA

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um dia eu ainda volto pra casa

Assentamento - Chico Buarque

Quando eu morrer, que me enterrem na
beira do chapadão
-- contente com minha terra
cansado de tanta guerra
crescido de coração
Tôo
(apud Guimarães Rosa)

Zanza daqui
Zanza pra acolá
Fim de feira, periferia afora
A cidade não mora mais em mim
Francisco, Serafim
Vamos embora

Ver o capim
Ver o baobá
Vamos ver a campina quando flora
A piracema, rios contravim
Binho, Bel, Bia, Quim
Vamos embora

Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilim
Vamos embora

domingo, 18 de outubro de 2009

O menino damião e o Mistério da istêla

"tem estrela do céu

e estrela do mar

então por que não ter

vara de pescar estrela no ar?"


A gente já tinha desvendado alguns mistérios juntos naquela mesma noite. Eu e damião. Mostrei pra ele como a sombra se alimentava de luz, e como podemos representar animais na parede, com a sombra da mão projetada.

Depois eu provei por a mais b que a sua imponente garrafa de água, verde, pomposa, só era grande de perto. E num instantinho damião viu que, de muitão distante, ela cabia dentro dos seus dedinhos minúsculos de menino.

E ainda deu tempo de lhe mostrar, naquele quarto bem, bem escuro (que ele só aceitou entrar quando lhe prometi jamais soltar-lhe a mãozinha), que a santa (de Sant’ana, ou Fátima, tanto faz) acendia no escuro como se tivesse luz própria. Era o pequenino milagre da fosforescência.
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E foi ele mesmo quem concluiu, com a simplicidade do mais simples menino (desculpe, leitor, a tríplice redundância incômoda), que a santa de fósforo era o contrário da sombra: se alimentava da falta de luz.

Mas não teve nem disputa, nem salvação. O que damião se interessou mesmo foi em desvendar o fabuloso mistério da estrela (e eu fiquei com o Mistério, maiúsculo). Pegou a estrela-do-mar de gesso que estava completamente esquecida pelos adultos há bem uns 300 anos em cima da mesa da varanda e perguntou: essa é de vedade?

(É que, há instantes atrás, ainda enquanto a gente passeava com o nosso pacêlo duque, encontramos uma estrelinha azul esquecida (largada) no meio da rua. Eu, o sabido e espertalhão, fui logo tentando arrepiar o menino, inventando que a bicha caíra do céu. damião, nem tchum: nãããão, não é istêla. É azul. Essa istêla é de fazer figura na praia. Istêla de verdade é banca! E não tinha nem como retrucar. A danada da “istêla” azul era a sinceridade em pessoa. Toda malamanhada e gasta, feia até. Nem podia pretender passar de molde plástico pra (mal) reproduzir na areia as distantes e Verdadeiras Estrelas do Céu.)

“Essa é de vedade?” Me pergunta o curioso damião. Eu, já esperto e consciente da ciência do neném, aliviei: não, é uma estrela de mentira. Vê: é amarela. Eis que damião, como mágico de cartola infinita, incansável máquina (ô palavra quadrada, tá fazendo o que em texto de amor?) de surpreender, dispara: essa é de vedade, sim, olhe atrás: é banca!

Não tinha escape. O enfeitezinho de muro cumpria o requisito único e bastante para ser astro: era “banco”. Era branco, era estrela. E agora? Eu, o adulto, com uma estrela de “vedade” na mão e dois olhos virgens de “quiança” fulminando meu corpanzil de gigante: caiu do céu?

Era chagada a hora de damião conhecer o mistério da estrela. Sem conseguir dispensar (e des-pensar também) o semelhante drama vivido por Saint-Exupéry quando enfrentou outro pequeno príncipe, e sem cogitar poder chegar à melhor resposta, soltei: veio, claro. Veio do céu. De onde mais poderia cair uma estrela?

Mas damião, claro, já conhecemos o guri, não se contentaria com palavra (já testada e reprovada) de adulto-sabido. Decidiu de imediato que queria presenciar a queda de uma “istêla” do céu. E não se sabe (nem se saberá, nem se pretenderá saber) de onde coños (junte seus trapos, carregue consigo a máquina lá de cima e parta deste texto, palavra insolente) o menino tirou tal idéia, mas a recomendação já veio assim, seca e direta: fique aí debaixo (do céu, imagine...), disse ele, com essa istêla assim (e fez com as mãos a posição de quem segura uma cesta em prontidão para coletar as mangas que caem do pé), esperando outra istêla cair em cima. Cuidado, não deixe cair, que quebra. Eu vou ficar ali sentado, ispelano.

Aí está. Tava desenhado o meu martírio. Desconsolado, desolado, fraco, impotente, frágil, desesperado. Como é que eu iria explicar ao menino que a bendita estrela não cairia ali, muito menos dentro da concavidade branca de uma estrela-do-mar de gesso amarela, que eu segurava religiosamente “debaixo do céu”? Poderia inventar uma maneira de ludibriar damião? Podia escapar desta parede e seguir com a fantasia (?) de que somos caçadores de mistérios, sim, mas só selecionando aqueles que eu domino e posso lhe mostrar (lhe ensinar) – como a sombra e a fosforescência?

Por fim, veio à tona, rasgou o liame que separa esse daquele, a verdade (que, se não cura, ao menos liberta): nada adiantava fazer. E também eu não quis mais fazer foi nada.

E diante dos olhos espectativos de damião, eu só queria mesmo que a istêla do céu caísse nas minhas mãos.
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Roda Viva ou Morta - tanto faz

Nasce

menos um

menos um

menos um

Morre

Nasce

menos um

menos um

menos um

Morre

Nasce

menos um

menos um

MAIS UM

Menos um

morre

Nasce

menos um

MAIS UM

MAIS UM

... ()

Homem é preso comendo animais!

Na última quinta-feira a polícia federal interrogou um homem acusado de matar, esquartejar e comer os restos mortais de 3 animais em sua própria casa, no sul do país. Após os primeiros exames os policiais disseram que o homem não aparenta retardamento mental nem se mostra agressivo, o que intriga os investigadores.
Ele é casado, pai de 2 filhos e trabalha em uma multinacional há 6 anos.
Há indícios de que seus dois filhos e sua esposa também tenham participado do crime, como conta o chefe da operação José Fernandes:
“Quando nós chegamos no local havia apenas sangue e restos dos animais mortos. A família toda estava dentro de casa e se recusava a abrir as portas para nós. Ficamos assustados com a naturalidade com que eles falavam do acontecido.”
Ainda em entrevista à nossa redação, o capitão José disse que, aparentemente, os animais mortos eram 1 galinha, 1 porco e 1 vaca.
FONTE: Terra, planeta. 28/out/2048