quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sozinha sentada na beira do rio



No dia da Lavagem do Senhor do Bonfim, irei caminhando do Comércio à Igreja, cantando, dançando, rindo e bebendo, junto com toda essa gente preta da Bahia - minha gente, minha raiz de fé - fazendo festa. É festa! Avisem aos orixás, "manda descer pra ver", na Terra tem um monte de gente preta marchando pelas ruas em nome do seu santo.

Chegando lá eu vou agradecer e também vou pedir, "toda fé tem um andor" e todo mundo tem ao menos uma fé. A fé é uma só. Eu vou pedir, porque tenho fé; vou pedir ao Senhor do Bonfim, a Oxalá, a Iansã, a Yemanjá, a Oxum; a todos os orixás; a mim mesma. Vou me pedir a verdade, a "verdadeira natureza interior", sem medo nem vergonha; deixar falar aquelas vozes caladas durante muito tempo, oprimidas. Vou me pedir que seja eu. E vou pedir também que as minhas feridas cicatrizem. Vou pedir a cura. Será sempre cicatriz, o meu corpo será prova do que vivi, não pretendo esquecer. Mas quero a cura. A cura permanente, a capacidade de encher de amor cada dor, misturando e fechando pouco a pouco a carne exposta. Se fechando, se protegendo, dia a dia, todos os dias da minha vida. Quero pedir proteção: "eu não ando só". Então lembro que não estou tão sozinha, que não sou tão dona da minha verdade, que faço parte de algo maior, infinito e belo, e que sirvo à harmonia da qual dependo, da qual dependemos.

Então acredito na paz do fim dos tempos.

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