sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Babilônia (Matrix, Máquina, Sistema, Império ou qualquer nome que se queira dar) não pode ser reconhecida fora de nós mesmos: não é a imensidão das megalópolis, não é o Estado e não são as grandes empresas.
Trata-se da cultura que alimenta estes elementos citados acima.
É o sentimento que nos faz acreditar que "lá em cima" seríamos mais felizes. Dentro daquele lindo carro seríamos mais felizes. Donos daquele gordo salário a vida seria mais interessante.
É uma doce, mas devastadora ilusão.
A Babilônia é o laço que escraviza tanto patrões, quanto empregados, tanto exploradores, quanto explorados.

Dentro da Babilônia, todos são peças. O máximo que se consegue ser é uma peça "bem posicionada" na máquina (uma peça bem sucedida).
Mas peça é peça, não é pessoa, não é ser, não é vida livre.

A Babilônia cai no instante que deixamos de reproduzi-la. Derrubamos a Babilônia quando oferecemos a outra face a quem só espere revide. Saímos da Babilônia no instante em que percebemos que ser vencedor é continuar no jogo. Paremos de jogar e o jogo acaba.

Rafael Figueiredo, janeiro de 2014

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Doce Encanto da Palavra

Doce encanto da palavra
Que encanta o meu coração
É o som da natureza tocando a emoção
Apenas poder estar vivo sentindo a sensação
Que é pela simplicidade que tudo tem solução

terça-feira, 21 de maio de 2013







"Amor então
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."
Leminski

domingo, 19 de maio de 2013

Pela lente do amor



Pela lente do amor
Uma grande angular
Vejo o lado, acima e atrás
Pela lente do amor
Sou capaz de enxergar
Toda moça e todo rapaz
Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor
Pela lente do amor
Até vejo você
Numa estrela da Ursa Maior
Abrir o ângulo, fechar o foco sobre a vida
Transcender pela lente do amor
Sair do cético, encontrar um beco sem saída
Transcender pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Sou capaz de entender
Os detalhes da alma de alguém
Pela lente do amor
Vejo a flor me dizer
Que ainda posso enxergar mais além
Pela lente do amor
Vejo a cor do prazer
Vejo a dor com a cara que tem
Pela lente do amor
Vejo o barco correr
Pelas águas do mal e do bem
Mostrar ao médico, encarar, curar sua ferida
Transcender pela lente do amor
Cantar o mântrico
Pagar o kármico na lida
Transcender pela lente do amor
Do amooooooooor <3


sábado, 4 de maio de 2013

Pés e mãos



"Não basta ser beija-flor e viver na altura dos nossos sonhos
Não basta ter o coração em chama de larva dourada
As mãos e os pés necessitam dançar a valsa da terra molhada, do chão pisado e batido
Lá, das profundezas do magma dourado
A mãe antiga abençoa cada destino, de cada filho teu:
Segue menino broto dourado, seus pés descalços são para criar raízes em mim,
Suas asas são para tornar-te pássaro, quando necessário for, beijar as estrelas.
Assim, idéia e ação, mente e coração, asas e sandálias, pés e mãos,
Orientam os nobres filhos de deus a tecer a encantada e misteriosa rede da vida.
Um sem o outro é ponto, um com o outro é linha a ser tecida de possibilidades infinitas...  
Criamos em ninhos dourados no alto dos nossos sonhos aquilo que nossa mão toca e vira ouro
Vivemos as estórias das nossas próprias bonecas de pano, em vida!
Assim, de lá e de cá,  do alto e de baixo, da raiz e dos galhos
Dessa força alquímica profunda de sorrir e  de chorar, de parir e erguer-se, de tocar e pisar, de pensar e sentir
Nasce a certeza de que o caminho dourado se faz na medida em que cada ponto e linha
Dessa grande colcha tecida e bordada da vida,
Contém o néctar de nossas flores dalma desabrochadas
Para servir ao nosso máximo propósito: virar flor para doar-se mel e receber do sol dourado,
O amor de deus pai e da deusa mãe - bicos de beija flor e zunidos carinhosos de abelhas."
(Decio Vianna)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Transbordem de amor, como eu transbordo de Maiakóvski em "Comumente é assim"

Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha. Vladimir Maiakóvski

Transbordem de amor, como eu transbordo de Vinicius em "O haver"



O Haver


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

essa intimidade perfeita com o silêncio.

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.

Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.

Resta esse antigo respeito pela noite

esse falar baixo

essa mão que tateia antes de ter

esse medo de ferir tocando

essa forte mão de homem

cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade

essa economia de gestos

essa inércia cada vez maior diante do infinito

essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível

essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons

esse sentimento da matéria em repouso

essa angústia da simultaneidade do tempo

essa lenta decomposição poética

em busca de uma só vida

de uma só morte

um só Vinícius.

Resta esse coração queimando

como um círio numa catedral em ruínas

essa tristeza diante do cotidiano

ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada

passos que se perdem sem memória.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza

essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido

essa imensa piedade de si mesmo

essa imensa piedade de sua inútil poesia

de sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado

de pequenos absurdos

essa tola capacidade de rir à toa

esse ridículo desejo de ser útil

e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade,

essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,

como será e virá a ser.

E ao mesmo tempo esse desejo de servir

essa contemporaneidade com o amanhã

dos que não tem ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar,

de transfigurar a realidade

dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é

e essa visão ampla dos acontecimentos

e essa impressionante e desnecessária presciência

e essa memória anterior de mundos inexistentes

e esse heroísmo estático

e essa pequenina luz indecifrável

a que às vezes os poetas tomam por esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto

na busca desesperada de alguma porta

quem sabe inexistente

e essa coragem indizível diante do grande medo

e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer

dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

de refletir-se em olhares sem curiosidade, sem história.

Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,

essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento

esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.

Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços

e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte

esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,

ela virá me abrir a porta como uma velha amante

sem saber que é a minha mais nova namorada.