sábado, 3 de julho de 2010

Bossa Nova




"O cara bate na porta dos fundos da padaria. O padeiro vem atender.
— Pois não, quer pães?
— Não, nenhum.
— Como assim? Nenhum? Quer leite?
— Não.
— Manteiga?
— Também não.
— Frios? Queijo e presunto?
— Não, não.
— Cerveeeja!
— Nada disso.
— Porra! O que você quer então?
— Quero contar uma coisa.
— Você quer me contar uma coisa?
— É!
— Que coisa?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!
— O quê!?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!
— Amigo, você só pode estar de sacanagem comigo!
— Não. Não estou não. É verdade. Eu aprendi.
— Bossa nova! Que merda é esta?
— É um ritmo musical.
— Ah, tá! E o que eu tenho a ver com isso?
— É bem difícil. Tive que praticar muito!
— Difícil é fazer pão sem farinha, meu amigo!
— Concordo! Uma coisa de cada vez. Pelo menos já aprendi a tocar bossa nova.
— Cacete! Você só sabe falar isso?
— Se você tivesse aprendido a fazer pão sem farinha, só iria falar nisso também. Não?
— Amigo, não tem ninguém pra você contar seu grande feito além de um padeiro?
— As quatro da manhã, não.
— Puta que o pariu!
— Como assim?
— Ah, olha a banca de revistas abrindo! Vai lá!
(…)
— O que vai ser, amigo. Jornal?
— Não. Sabe o que é?
— O quê?
— Eu aprendi a tocar bossa nova!"

(Marcelo Ferrari).

3 comentários:

  1. quando se aprende a tocar bossa, tem que se gritar e fazer saber do alto dos telhados. de que adianta bossa debaixo do piso?

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  2. já eu acho que quem aprende a tocar bossa nem precisa dizer que aprendeu... já se saca do comportamento do sujeito - devagar, seguro, 'escorregadio', empolgado, simples (mas também sofisticado) - assim como é a bossa, né não?

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  3. Gostei bastante do texto...Mais uma pedrada...

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