terça-feira, 31 de agosto de 2010

O louco e a gravata


- O que é realidade?
- É o que a maioria achou que devia ser. Não necessariamente o melhor, nem o mais lógico, mas o que se adaptou ao desejo coletivo. Você está vendo o que tenho no pescoço?
- Uma gravata.
- Muito bem. Sua resposta é lógica, coerente com uma pessoa absolutamente normal: uma gravata!
Um louco, porém, diria que tenho no pescoço um pano colorido, ridículo, inútil, amarrado de uma maneira complicada, que termina dificultando os movimentos da cabeça e exigindo um esforço maior para que o ar possa entrar nos pulmões. Se eu me distrair quando estiver perto de um ventilador, posso morrer estrangulado por este pano.

Se um louco me perguntar para que serve uma gravata, eu terei que responder: para absolutamente nada. Nem mesmo para enfeitar, porque hoje em dia ela tornou-se o símbolo de escravidão, poder, distanciamento. A única utilidade da gravata consiste em chegar em casa e retirá-la, dando a sensação de que estamos livres de alguma coisa que nem sabemos o que é.

Paulo Coelho - num surto de consciência (Verônica decide morrer)

2 comentários:

  1. reconheço a minha insignificância...

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  2. quero um par de sapatos 36 para ter o prazer de chegar em casa e tirar os sapatos apertados.
    pra que gravata
    pra quê tudo.

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