segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dois copos e uma porção de dignidade, por favor!


Não queria nada de mais. A solicitação era apenas por dignidade, que lhe começara a faltar.


(...)


Naquele último dia daquele último ano, não havia a suprema face do amor, mas algo digno. Algo que dava para encostar a cabeça de tarde e adormecer sem susto.

Claro que existiam os momentos sublimes. Aqueles que arrepiam a parte de baixo do estômago, mas já não era o constante (não que houvesse qualquer relutância sua em postergar aquela situação).

Não era a companheira de sua vida (eram incompatíveis), mas era suficientemente boa pra ele naquele instante: pés, cabelos, seios, carinho, calor, conforto e algumas promessas.

E isso porque nos invernos passados havia aprendido a valorizar o calor (mesmo quando provinha de uma chama modesta).

O que buscava fundamentalmente era a dignidade do compromisso. Do acordo sério entre duas pessoas sérias e confiáveis (mesmo que aparentemente insanas e inconstantes). Na verdade, era como renunciar parte do amor (talvez a sua melhor parte), porém, como disse, a vida o fez desejar menos.

Claro que queria o fogo, o gozo, o carinho, o mistério, a surpresa, o afeto, o filme de tarde, a mensagem inesperada de amor, a publicidade, a companhia nos lugares agradáveis... Porém uma ou duas destas qualidades, se dignas, já eram mais do que suficientes (culpa da vida).


(...)


E agora? O que queria? Não estaria iludido pelas próprias projeções? Não era ele quem queria tudo o que pudesse desejar? Não era ele quem queria conhecer o mundo, sem deixar saudades? Cadê aquilo que o diferenciava dos demais? Aquela coragem de mudar a realidade, a sua e a dos outros, apenas com amor e criatividade? Tudo havia morrido dentro dele?

Projetado neste seu novo paradigma, percebia, finalmente, que era apenas um vivente, que inspira e expira, mas que persegue sempre o mais elementar que sua dignidade o permite buscar. Apenas isso.

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