sábado, 5 de novembro de 2011

As mulheres que me habitam


Mora em mim uma mulher vadia

De pé, vazia

Sozinha na estrada, na esquina

Com frio e quase desnuda

Corpo tão maltratado que quase não sente a dor de ser


Mora em mim uma mulher violentada

Corrompida

Invadida em seu templo, sua casa, sua morada

Ferida na pele e na alma

Por séculos de submissão


Mora em mim uma mulher sertaneja

Carne feita de sol

Pés como raízes, firmes na terra

Ela é filha do fogo que habita o centro do planeta

e de mim mesma


Mora em mim uma mulher que colore

os quadros, os muros, o ar, as fronteiras.

Inquieta, vívida, cabelo de flor.

Sua arte é santa e puta.

Sua vida é de mel e sangue.


Mora em mim a dona dos raios e trovões

Dos ventos que derrubam sonhos

E fazem dançar as árvores mais ancestrais

Porque é ela quem anuncia a guerra

Daqueles que lutam na escuridão da madrugada


Mora em mim a rainha de toda fertilidade

De toda vaidade

E da calma das nascentes dos rios

Se pavão, esbanja beleza.

Se urubu, voa rumo ao infinito.


Moram em mim todas as mulheres do mundo:

E todas elas são mais fortes do que eu.

2 comentários:

  1. Muito, muito lindo! :)

    Escrevendo da casa de Cotra, 2 e 30 da manhã, logo após o Estrela :D

    Saudade de você na sessão de hoje (e de Juki também :)
    Beijo no coração! :D

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  2. muito bom!!!
    - uow...todas elas são fortes como você!
    - saudades também na sessão! (e de Juki também) [2]

    Três beijos

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