Na prática do Naikan, refletimos sobre três perguntas principais:
- O que eu recebi desta pessoa?
- O que eu dei a esta pessoa?
- Que inconvenientes eu causei a esta pessoa?
Há várias maneiras de praticar Naikan. Uma delas é praticar o Naikan diário, um pouco antes de dormir, refletindo sobre todas as interações daquele dia em particular. O que eu recebi? Que coisas funcionaram bem? Que pessoas e objetos cumpriram “seu papel” de forma esperada? O que eu recebi dos outros, ainda que tenha pago por isto? Se paguei, quem me deu este dinheiro? Não importa a intenção ou objetivo das outras pessoas, nem considerações de “merecimento” ou “justiça” — nada disso muda o fato de que eu me beneficiei dos esforços e da generosidade de outros.
Tentamos descrever estas interações como uma espécie de contabilidade, da maneira mais detalhista e objetiva possível. Por exemplo, minha esposa não somente “me ajudou”. Qual foi o ato específico? Ela por exemplo colocou toda a mesa do café da manhã, preparou o café, comprou pão, arrumou a cama. Se alguém me deu uma carona até algum lugar e, no caminho, acabamos discutindo, isto não muda o fato de eu ter me beneficiado desta carona.
Quando fazemos Naikan a respeito de nossos pais, por exemplo, não basta dizer que eles “cuidaram de mim”. Que atos específicos eles fizeram de novo e de novo em meu benefício? Que alimentos eles prepararam? Que cuidados eles tiveram conosco? Dizer apenas que eles “cuidaram de mim” é uma generalização imprecisa que não corresponde à realidade — e não faz justiça à enorme variedade e diversidade de cuidados que eu recebi deles durante tantos anos.
Além do Naikan diário, é possível fazer um Naikan mais detalhado, específico em relação às interações com uma determinada pessoa. Tradicionalmente, no Japão o Naikan começa com uma reflexão sobre nosso relacionamento com nossa mãe. A reflexão é dividida em períodos de nossa vida. Primeiro tentamos nos lembrar de detalhes específicos de nossas interações com nossa mãe até os 7 anos de idade, de acordo com as três perguntas. O que ela fez por nós? O que nós fizemos por ela? Que inconvenientes nós causamos a ela? Novamente, nosso objetivo é ter um relato específico e detalhado. Minha mãe preparava sempre uma determinada sopa quando eu ficava doente, me dava banho de certa maneira, me preparava um chá, me colocava para dormir e cantava uma determinada música. Não é uma descrição precisa dizer simplesmente que eu “causei problemas para minha mãe por não me comportar”. O que exatamente eu fiz? Que coisas eu destruí? Como eu a chateei? E assim por diante.
No Naikan, não surge a consideração da chamada “quarta pergunta”: “que inconvenientes o outro me causou”. Nós já pensamos demais sobre isto, mas não vemos o outro lado. Em relação a pessoas com quem temos problemas, o que eu recebi desta pessoa? O que eu dei a esta pessoa? Que inconvenientes eu causei a esta pessoa?
As respostas a estas perguntas podem ser anotadas por escrito, em um computador, em um diário, ou nossa reflexão pode ser mental. No geral, se conseguimos escrever facilmente, nossa reflexão se torna mais específica e detalhadas. Mas isto não é obrigatório no Naikan. No Japão e nos Estados Unidos, no ToDo Institute, frequentemente são realizados retiros intensivos de Naikan durante uma semana. Nestes retiros, a pessoa se senta em posição de meditação e durante o dia inteiro reflete sobre suas interações com as diversas pessoas de sua vida. É uma experiência muito intensa.
Praticar Naikan ensina sobre o Naikan. Com o tempo, nossa capacidade de observação vai se tornando cada vez mais precisa e sutil… vamos percebendo cada vez mais detalhes que antes eram ignorados. Naikan ensina Naikan. Por que não experimentar? Naikan é uma prática extremamente transformadora.
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