segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Desavesso

Não espere que o tempo cure, porque ele não cura. No máximo, anestesia. O tempo torna aceitável o que antes não era, mas a fonte continua viva, mesmo que com menos fogo. E com o tempo, você vai se tornado uma coisa disforme, irreconhecível, porque só é um monte de feridas mal curadas. Você e sua dor vão se tornando uma coisa só. Os momentos bons vão se tornando apenas os raros momentos de esquecimento anestesiado. Então você procura mais anestésicos. Enche a cara, esquece, mas a natureza é sábia, inventou a ressaca. E aí você vai curando ressaca com mais ressaca. Arruma um novo amor, arruma novos amigos, encontra novas drogas, novas idéias, novas “fés”, mas a euforia do novo passa e você é viciado em euforia, porque euforia anestesia e você não se agüenta de cara.

Um dia você entende isso, então pára. Se for um fraco, sucumbe (ainda não era a sua vez), se tiver força, salta. O círculo se torna nítido. Você deixa os anestésicos pros finais de semana e contempla, sem cinismo, os seus demônios. Percebe que tudo dói, que você é o avesso, do avesso, do avesso de você mesmo. Tudo o que fez até hoje foi apenas instinto (carne consciente tentando evitar a dor e a morte) e que o instinto só fez de você algo que você não é, que você nunca quis ser. Sua carne fraca muitas vezes suplica pra você esquecer, pra voltar pro seu lugar de “origem”. Possivelmente voltará algumas vezes, mas o “estrago” já foi feito: pra você, agora, ou é liberdade, ou é depressão.

5 comentários:

  1. eu não me aguento de cara...prefiro viver instintamente, atrás da liberdade...comtemplando meus demônios dia após dia...e de preferência com uma boa dose de cinismo...

    minha carne é fraca...mas, uma única coisa tenho certeza: isso é o que eu quero ser.

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  2. é uma merda né? esse negocio de ser humano? eu sempre disse.

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