sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desocupa Salvador! (01/02/2012)


A essa altura do campeonato, quase todo mundo já tinha ouvido falar do Desocupa Salvador. Indo pro ponto de ônibus, a caminho da terceira manifestação, no dia 1º de fevereiro, escuto dois jovens conversando: “– Vai rolar o Desocupa Salvador hoje. – O que é Desocupa Salvador? – Você nunca ouviu falar? Não acredito...”. Pois é, o movimento já tinha ganhado notoriedade, principalmente na internet e nas conversas entre amigos. Quem não soubesse do que se tratava corria o risco de ser taxado de alienado. Era minha primeira vez no movimento. Dentro do ônibus, me perguntava quantas daquelas pessoas estariam indo pro mesmo lugar que eu; a passeata sairia às 16h da frente do Teatro Castro Alves, no Campo Grande, rumo à Praça Municipal, no Pelourinho.

Primeiramente sob o nome “Ocupa Salvador”, o movimento surge como uma manifestação da classe média contrária ao processo de reforma de uma praça no bairro de Ondina – agora conhecida como “Praça dos Indignados”. A reforma, concedida através de processo licitatório à empresa Premium Produções, deixa claro o objetivo de que a praça abrigue o Camarote Salvador (um dos maiores e mais caros do Carnaval) anualmente; por esse motivo, o espaço é pouco habitável por nós, cidadãs e cidadãos. Acontece que essa comoção levantou uma discussão muito mais profunda: Por que os espaços públicos não são públicos? Até quando o Carnaval de Salvador será excludente e opressor? Por que nós, que ocupamos a cidade diariamente, somos impedidos de participar e construir seus espaços de forma coletiva?

As pautas começam a ganhar corpo. O prefeito João Henrique é apontado como grande mentor desse sistema. Exige-se a revogação da Lei de Ocupação, Uso e Ordenamento do Solo (LOUOS). Repudia-se o PDDU. É, estão vendendo nossa cidade bem debaixo dos nossos narizes. Sair às ruas e gritar passa a ser a alternativa. E foi justamente isso o que vi no dia 1º de fevereiro, às 16h, na Avenida Sete de Setembro, em Salvador: uma multidão indignada com os rumos que estão sendo impostos à cidade. As nossas palavras, dentre outras: Devolvam nossa cidade! Se saia, João Henrique! Dá pra ver, dá pra ver, dá pra ver que roubou! Vereador que aprovar as contas do Prefeito não será reeleito! Fora João fanfarrão! LOUS criminosa: revogação já! Abaixo a venda da nossa cidade, desprivatiza ou dá descarga! Carnaval do capital, pra quem tá cheio do real! A cidade é nossa!


Sim, a cidade é nossa. E o movimento se chama “Desocupa Salvador”. É pra que vocês – que querem vender a nossa cidade, privatiza-la, entrega-la nas mãos do capital, submetê-la às leis do mercado e à lógica da propriedade privada – desocupem, se saiam, fora!

Mas o mais importante de tudo isso foi ver que, aos poucos, a classe trabalhadora está se apropriando do movimento e impondo as suas pautas na construção de um projeto popular para a nossa cidade. Representantes do Movimento Sem Teto da Bahia estavam lá. O massacre em Pinheirinho foi lembrado e gritamos: “na luta por moradia, somos todos Pinheirinho!”. A comunidade Quilombo Rio dos Macacos, diariamente oprimida pela Marinha do Brasil na tentativa de expulsar os moradores das suas casas, fez-se presente. O movimento anti-manicomial expôs suas reivindicações. Estávamos lá na tentativa de construir algo diferente.

A questão que fica agora é o que fazer com essa mobilização. Continuar se organizando? Sim! Ampliar o debate? Sim! Abrir as reivindicações para todos os movimentos sociais de Salvador? Sim! Precisamos nos unir, usar nossa força enquanto classe oprimida que se rebela, porque no fundo a nossa luta é uma só: “Desocupa capitalismo! Façamos do Capitalismo história.”

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