Nota de esclarecimento sobre "Crônica de uma guerra "

Olá, pessoas!

Sou Rafael Figueiredo, autor do texto "Crônica de uma guerra" (disponível aqui: http://cosmosedamiao.blogspot.com/2011/12/cronica-de-uma-guerra.html) e um dos colaboradores do blog Cosmos e Damião. Sou advogado, vegano e milito na defesa dos direitos dos animais não-humanos.

Sempre escrevo sobre Direito Animal, mas este texto gerou uma repercussão que eu não esperava.

Foram mais de 4.400 compartilhamentos no Facebook até agora e  milhares de visitas a este blog.

Pois bem, estou escrevendo esta nota para esclarecer alguns pontos que não ficaram muito claros ou que não foram bem entendidos por muitas pessoas (não entrarei neste mérito).

ESTA MÁQUINA DA FOTO NÃO É DESTINADA AO ABATE DE AVES PARA O CONSUMO HUMANO!

Leiam meu texto novamente!

Percebam que hora nenhuma eu disse isso, mas para evitar confusão, ou mal entendido, repito novamente: esta máquina não mata animais não-humanos para o consumo humano!

Esta máquina foi comprada para matar animais que possam ficar doentes. Na foto em questão, as aves não estavam doentes. Serviram apenas para testar a eficiência da máquina (cuja capacidade mortífera é de 15.000 aves mortas em 15 minutos). Acho que devem ter jogado os restos mortais fora (eu não sei).

Agora compreendam!

A perplexidade motivadora do meu texto não foi a destinação que esta máquina seria dada, mas o fato da inventividade humana estar sendo usada para criar algo assim. Imagine os engenheiros que a criaram chegando em casa: "Olha filho, seu papai criou uma máquina capaz de matar 15.000 aves em 15 minutos! Usando ESPUMA!!!".

Vocês realmente não percebem, sentem, entendem o horror que existe nisso?

Não é só pela crueldade da prática em si: nossa espécie consegue ser muito mais cruel - vide a monstruosa indústria da carne de vitela (o babybeef), as vaquejadas, a experimentação animal e tantos outros casos de crueldade extrema com animais não-humanos.

A questão é o uso de inteligência, de tecnologia de ponta, de dinheiro, estudo e tanta energia humana para tornar o mundo ainda mais violento, triste e infeliz.

Percebam que estamos num estado de constante violência. Somos uma espécie que se tornou forte demais, inteligente demais, mas que só está conseguindo transformar este planeta num lugar cada vez pior (para os próprios humanos e para os demais habitantes do planeta). E a raiz disto tudo é o nosso constante e crescente estado de violência.

A pecuária, que hoje é o maior problema ambiental do planeta Terra (e provo isso por A+B), é apenas um dos motores do nosso permanente estado de guerra, violência e destruição. Olhem para trânsito das grandes cidades, assistam televisão, reparem como as crianças estão se divertindo, percebam como a violência se tornou algo normal, mas ela NÃO É!

Isso é doença!

Somos uma espécie doente!

Nossa civilização está mergulhada num profundo e doentio estado de guerra e auto-destruição!

Só que o inferno que criamos para nós mesmos nem se compara com o inferno que estamos submetendo a imensa maioria dos outros habitantes do planeta. Estima-se que estamos escravizando, torturando, mutilando e assassinando, ANUALMENTE, cerca de 70 bilhões de animais não-humanos terrestres.

Quanto aos animais que vivem nas águas, cientistas estimam que muito em breve teremos a 4° maior extinção de espécies e indivíduos de toda a história da vida no planeta Terra (nos mais de 3,5 bilhões de anos!), sendo ocasionada principalmente pela super-pesca de animais.

Agora vejam o que está acontecendo no Brasil.

Desde que os portugueses chegaram aqui, fazemos exatamente o seguinte: (1°) chegamos num bioma virgem e logo cortamos algumas árvores de grande valor econômico; (2°) queimamos a vegetação remanescente; (3°) plantamos pasto e colocamos gado pra pastar; (4°) quando a área fica muito valorizada, plantamos alguma monocultura que empobrece o solo, e (5°) quando ele fica pobre demais, o governo indeniza o grande proprietário e dá a terra para algum coitado tentar sustentar a família (isso é mais recente, e é chamado por aqui de reforma agrária).

Pois bem, este modelo destruiu quase todos os biomas brasileiros, e agora está destruindo a floresta Amazônica!

A imensa parte de floresta Amazônica recentemente destruída deu lugar para o plantio de pasto que serve pra escravizar animais não-humanos.

Bello Monte é fichinha, trocado miúdo mesmo, perto do que a pecuária extensiva está fazendo atualmente na floresta.

Aí as pessoas mal-informadas dizem: "mas vocês vegetarianos comem soja e soja é plantada em monocultura - agronegócio -, que está destruindo a floresta também". Só que quem diz isso não sabe que cerca de 99% dos grãos produzidos pelo agronegócio no Brasil são vendidos como ração animal para a pecuária intensiva e semi-intensiva em outros países. Em suma, o AGRONEGÓCIO BRASILEIRO (com exceção de alguns outros produtos) ATENDE SOBRETUDO À INDÚSTRIA DE EXPLORAÇÃO ANIMAL.

Quem vocês acham que está pagando pelo novo Código Florestal?

Quem vocês acham que comprou o PCdoB e Aldo Rebelo?

Respondo: os pecuaristas e os setores ligados direta ou indiretamente a exploração animal!

A eleição de Dilma foi financiada pelos pecuaristas e agora eles estão cobrando a conta. Este Código vai sair, e isso porque eles precisam de mais terras pra criação de gado e para o plantio de grãos destinados sobretudo à produção de ração para animais.

Vão colocar fogo nas nossas florestas pra os humanos daqui e de outros países continuarem a comer animais!

Romper com hábito de comer carne é apenas um passo contra tudo isso, mas é um passo fundamental!

Você não pode ser ambientalista se você está patrocinando a atividade humana que mais destrói o meio-ambiente. É, no mínimo, falta de coerência.

O grande dom da nossa espécie é a capacidade de escolha.

É possível escolher não matar, nem explorar os animais não-humanos. Milhões de pessoas já fizeram esta opção!

É possível deixar de ser predador!

É possível coexistir com os demais animais com paz e harmonia!

É possível e muito saudável ter uma alimentação que faz bem para o corpo, evita doenças cardiovasculares, obesidade e tantos malefícios decorrentes do consumo de restos mortais de outros animais.

Não é a solução para tudo, mas um passo indispensável em direção a um novo estado de consciência humana.

Num mundo mergulhado na guerra, na destruição, na infelicidade e na violência, uma escolha pela paz, pela saúde do planeta e do nosso próprio corpo.

Jamais haverá justiça verdadeira enquanto somos tão injustos com a imensa maioria dos outros habitantes do planeta!

Jamais haverá felicidade geral enquanto impomos a infelicidade completa para a imensa maioria dos outros terráqueos!

Abordei aqui apenas uma pequena parte desta questão. Existem muitos outros indicativos que mostram que nossa espécie, enquanto onívora, atualmente é INSUSTENTÁVEL: a pecuária como uma das principais causas da fome humana no mundo, como uma das maiores intensificadoras do efeito estufa, do consumo de água etc.

Por fim, posto aqui dois documentários e alguns links.

Se acha que tudo o que escrevi é uma imensa besteira (isso é um direito seu), ao menos, assista-os e informe-se nos links. Conheça melhor nossos argumentos e depois formule os seus contra-argumentos. Vamos elevar o nível do debate, porque ficar dizendo que vegetarianismo cria fome no mundo, que somos doentes e anêmicos, que teremos deficiência de proteína (e tantas besteiras que li pela internet nestes últimos dias) é rebaixar demais o nível da discussão.

Os documentários:

Uma Vida Interligada

Terráqueos

Os links:

www.sejavegano.com.br

http://www.guiavegano.com.br/

Existem muitos fóruns, grupos, ONGs, partidos políticos (quase todos os países da Europa já possuem partidos políticos de Direito Animal), livros, documentários, filmes, blogs, sites... sobre a questão.

Somos um movimento que luta pela mudança do status jurídico dos animais não-humanos: de coisas que se movem (semoventes) para sujeitos de direito.

Do ponto de vista filosófico, representamos uma reação ao paradigma antropocêntrico que ainda é preponderante no pensamento humano. Estamos presentes atualmente em quase todos os campos do conhecimento (Medicina, Nutrição, Esportes, Direito, Política, Arte, Sociologia, Filosofia etc), mesmo que ainda de maneira inicial.

O movimento pela abolição da exploração animal no mundo é muito recente, por isso que ainda é tão rejeitado, mas representamos (e não tenho a menor dúvida disso) um novo padrão moral para espécie humana.

Assim como a escravidão humana durou milhares de anos, mas teve fim; a escravidão dos animais não-humanos ainda durará muito tempo, mas também terá fim.

Lutamos, sobretudo, contra o especismo – a irracional e arbitrária discriminação de sujeitos por diferença de espécie.

Especismo, por exemplo, ocorre quando você mata e morre pelo seu cachorro, mas aplaude de pé uma tourada ou um churrasco (chama-se esta forma de especismo de seletivo).

É isso! Fui extenso demais, mas é porque esta é uma questão muito mais complexa e profunda do que parece.

Antes de rejeitar o que eu disse, pense algum tempo a respeito.
Reflita. Sinta todo o sofrimento que está agora na sua geladeira, e se permita mudar.
Mudar pelos animais, pelas pessoas, pelas florestas, por mais saúde, mais paz de espírito, mais amor e compaixão na sua vida e no mundo.
Sejamos a paz, a harmonia e a justiça que queremos ver florescer neste ainda triste mundo em que vivemos!


Fiquem em paz!

Rafael Figueiredo